The Testaments, é a aguardada sequencia de O Conto da Aia, romance publicado há 34 anos pela autora canadense Margaret Atwood.
The Testaments (Os Testamentos) se inicia 15 anos depois dos eventos de O Conto da Aia e é narrado por três personagens, todas mulheres, sendo elas: Tia Lydia, figura já conhecida (e temida) em o Conto da Aia, e duas adolescentes, uma vivendo em Gilead e outra no Canadá. Por conta de possíveis spoilers não vou mencionar quem são as duas porque acredito que não irá afetar a resenha.
Apesar de contar com um começo promissor a história de The Testaments não foi o suficiente para me cativar como um todo, e nem para que eu desse uma nota maior do que três estrelas. O que no início do livro parecia ser algo bom, ter finalmente algumas revelações há muito esperadas, rapidamente se tornou algo negativo. Após essa constatação meu maior pensamento durante a leitura passou a ser há poder nas coisas não ditas.
E isso gerou um paradoxo em minha mente pois apesar de entender que The Testaments não é um completo desperdício em sua existência, comecei a me questionar se ele era realmente necessário. Na mesma medida, o fato de The Handmaid’s Tale ter sido renovada para sua quarta temporada também me incomoda, afinal não era necessário que a história alonga-se tanto, não importando o tipo de respostas e resoluções aos quais nos agarramos para justificar sua prolongada presença nas telas de tv ao redor do mundo. E isso também me gerou um outro pensamento, já que The Testaments avançou muito mais do que a série de tv, talvez a própria autora tenha vontade de que o fim daquilo que começou em O Conto da Aia esteja sob seu controle, que o final seja nos termos dela, isso é algo que eu também consigo aceitar.
Voltando a questão da história, achei os capítulos da Tia Lydia extremamente cansativos de ler, a voz dela não me cativou nem um pouco e toda vez que chegava um novo capítulo eu tinha preguiça de continuar a ler. Quanto as duas adolescentes, a narradora que vive em Gilead foi bem interessante de ler durante boa parte do livro, e ver como ela via tudo aquilo que Gilead construiu como real, correto e bom foi realmente assustador. Já a outra adolescente é simplesmente insuportável, mas acredito que boa parte da construção de sua persona foi para criar um grande contraste entre as duas adolescentes e suas realidades. Outra coisa que me irritou bastante foram os inúmeros cliffhangers nos fins de capítulo, praticamente todos os capítulos terminavam dessa forma, o que depois de um tempo acaba sendo meio repetitivo.
Acredito que um dos grandes defeitos de The Testaments seja que ele não tem nem metade da carga emocional presente em O Conto da Aia, já que a narração de Offred em primeira pessoa e com conhecimento e perspectiva limitados daquilo que está ao seu redor nos transmite uma sensação de medo e até mesmo uma espécie de sufocamento enquanto narra sua história. Eu, assim como muitos, fiquei completamente chocada com o final de O Conto da Aia e senti que precisava saber o que viria a seguir. E foi só lendo The Testaments que aprendi uma importante lição depois de 22 anos de minha vida de leitora, a ambiguidade pode ser algo chave para uma narrativa. O final de O Conto da Aia é repleto de ambiguidade, pois somos deixados nos perguntando o que aconteceu, esperando o pior, mas torcendo para o melhor. E ao nos dar as respostas The Testaments retira um véu de cima de nossas cabeças, colorindo entre todas as entrelinhas. De fato esta leitura me fez valorizar ainda mais a grandeza presente em O Conto da Aia. Não foi um livro que me arrependi de ler, na verdade fico feliz de tê-lo feito, mas admito que sozinho ele não tem tanto poder para se sustentar, o que lhe dá um pouco mais de força é saber que ele esta inserido neste universo criado, de Gilead e Aias e totalitarismo, e que isso em conjunto faz dele um livro melhor.
Os Testamentos será publicado no Brasil pela editora Rocco em Novembro de 2019.